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Palestrantes demonstraram a importância de se ter uma rede de laboratórios cada vez mais fortalecida
Painel realizado na tarde do terceiro dia da 17ª ExpoEpi teve como tema “Ações, estratégia e programas na Rede Nacional de Laboratórios”. Os palestrantes abordaram as potencialidades das diferentes interfaces das redes de laboratórios pública e privada e o conhecimento sobre as doenças e ameaças de saúde pública gerado por elas.
A coordenação do painel foi feita por Aline Amaral Imbeloni, diretora do Centro Nacional de Primatas (CENP), ligado à Secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA/MS). Ela destacou a importância do tema em um evento com a dimensão e o público da Expoepi em proporcionar troca de experiências e de conhecimento da Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública (CGLAB/DAEVS/SVSA/MS) sobre a infraestrutura da Rede Nacional de Laboratórios e sobre diferentes estratégias, ações e abordagens laboratoriais de universidades, institutos de pesquisa e órgãos do terceiro setor.
A coordenadora da CGLAB, Marilia Santini de Oliveira, apresentou o Sistema Nacional de Vigilância Laboratorial dividido em 4 redes, duas delas ligadas à SVSA: Vigilância Epidemiológica e Vigilância Ambiental. Essas redes contam com 27 Laboratórios Centrais nos estados (Lacen), 12 Laboratórios de Fronteira (Lafron) e três laboratórios de Nível de Biossegurança 3 (NB3), um dos mais elevados níveis de contenção biológica; além da Rede de Laboratórios de Referência Nacional para as doenças de notificação compulsória e a Rede de Laboratórios de Saúde Ambiental.
De acordo com a coordenadora, a Rede Nacional de Laboratórios de Saúde Pública recebeu, até outubro deste ano, investimento de quase R$ 262 milhões de reais. Ela apresentou ainda os sistemas de informação de responsabilidade da CGLAB como o Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL) que passa por melhorias constantes.
“Eu trouxe pra vocês o sistema que nós temos hoje. Na segunda e na terça-feira dessa semana, nós tivemos reunião entre a CGLAB e os diretores de Lacen’s em que exploramos muito esse sistema e chegamos à conclusão de que nós queremos um sistema que seja esse, mas melhorado, com infraestrutura fortalecida, maior capilaridade, transporte de amostras mais ágil, maior número de metodologias e agravos monitorados, sistema de informação com maior usabilidade e com maior integração da rede” afirmou Marília.
De acordo com a coordenadora, as estratégias para o alcance dessas melhorias compreendem mudanças de regulamentação, como a movimentação da CGLAB de dentro do DAEVS para ficar ligada diretamente ao Gabinete da Secretária, maiores investimentos, como aqueles previstos no Novo PAC para a construção do primeiro laboratório NB4 do Brasil (maior nível de biocontenção existente) e a integração e otimização de processos.
O pesquisador da Fiocruz, Rivaldo Venâncio da Cunha, iniciou a sua fala reconhecendo a importância da Rede Nacional de Laboratórios a qual ele considera um verdadeiro patrimônio da sociedade brasileira. Venâncio demonstrou ainda a magnitude do desafio representado pelas arboviroses no Brasil.
O pesquisador destacou o número de casos notificados de dengue no Brasil em 2023, que já passava de 1 milhão e 600 mil no final de outubro, com mil mortes. Ele chamou atenção ainda para os riscos de emergências envolvendo arbovírus como Oropouche, Mayaro, Usutu, Toscana e Nilo Ocidental.
De acordo com Venâncio, a minimização desses riscos passa, entre outras medidas, pelo acesso ao diagnóstico rápido, pela resolução de problemas de saneamento nas cidades brasileiras, pela comunicação com a sociedade e pela manutenção da capacitação dos trabalhadores da rede laboratorial.
O professor da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Pedro Eduardo Almeida da Silva, chamou a atenção para a epidemia silenciosa representada pela resistência aos antimicrobianos (RAM). O professor explicou que os remédios da classe dos antibióticos são uma espécie de antimicrobianos.
Ele apresentou uma linha do tempo que relaciona o lançamento de novos antimicrobianos com o aparecimento de micro-organismos resistentes a eles. Pedro citou um estudo de 2019, do Instituto de Saúde do Reino Unido. A pesquisa indicava que, no ritmo em que se estava desenvolvendo a resistência antimicrobiana, em 2050 as mortes pela infecção por esses organismos multirresistentes já passariam as mortes por câncer.
De acordo com Pedro, hoje, quase 1 milhão e trezentas mil mortes por ano podem ser atribuídas à RAM. Ele também enfatizou que o controle do problema passa pela evitação de infecções e que, para isso, é fundamental o acesso regular à água potável e redes de esgotamento sanitário. Outra medida de controle é o uso racional de antimicrobianos tanto em humanos, como na produção de animais para alimentação. Segundo uma pesquisa realizada nos Estados Unidos e apresentada pelo professor, 67,5% dos tratamentos realizados com antimicrobianos são fruto de diagnósticos inadequados e, portanto, seriam evitáveis.
Anderson Fernandes de Brito, pesquisador do Instituto Todos Pela Saúde (ITpS), apresentou cases de estudos realizados pelo instituto com dados da rede de laboratórios privados e como eles podem apoiar a saúde pública. Os cases incluíram o monitoramento da sub-variante BA.1 da Ômicrom do Sars-CoV-2 que, segundo Anderson, substituiu a variante Delta em cerca de 4 semanas no Brasil.
O pesquisador destacou que o trabalho do instituto não se encerra na realização dos estudos e na notificação das secretarias de saúde e da SVSA, mas na divulgação das informações geradas para a população por meio da imprensa e das redes sociais no intuito de que os cidadãos possam tomar decisões informadas por evidências sobre saúde.